sábado, 25 de dezembro de 2010

Um discurso em um sonho.

Me preocupava em sair logo, mas estava em um carro e outras muitas pessoas também. Todos estavam com pressa, existe apenas uma estrada e eu achava que existia atalhos. Eu os pegava e voltava para onde não queria. Me preocupava com o dinheiro, com a gasolina, mas o que realmente me incomodava era o tempo passando e os objetivos não sendo cumpridos. A viagem seguiu e na 'serra da esperança' me encontrei preso por um congestionamento gigante. Ali não era nada simples, as pessoas pareciam estar vivendo nesse 'não-lugar'. Um caminhoneiro no alto estacionou sua carreta e abriu uma faixa com algumas palavras de protesto. Helicópteros sobrevoavam a área e a mídia pedia calma, mas ao mesmo tempo fui entendendo as entrelinhas do discurso: 'não é hora da revolução, sejam sempre os mesmos covardes'. Ao entender isso, observei algumas pessoas pelos olhos, queria saber se estava sozinho. Eu enxergava olhares desalentadores e escutava uma mulher numa parte alta com um microfone na mão, até então, a mesma coisa de sempre, mas aí foi projetado uma foto minha morrendo. Lá estava eu sendo alvejado por um tiro na nuca e as palavras sobre isso não eram mais claras. Subi e exigi o microfone, tive resistência e um amigo meu que estava pelado na multidão gritou algumas palavras lucidas e me entregaram o poder da palavra por um minuto. Primeiro, não admiti minha morte, disse à todos que a bala saiu da minha cabeça e que estou aqui, sim, sou eu mesmo respirando até não sei quando e então, fabulare necesse est: - “Não façam de tudo isso uma reflexão rasa, sem conseqüências positivas para nós todxs. Estamos aqui e não gostaríamos. Temos censuras, temos animosidades e tudo precisa ser resolvido. É hora de desligar a televisão e conversar com os amigos, com os vizinhos. De minha parte, o senhor do caminhão tem toda razão, lutemos por nossos direitos, por nossas liberdades. Não é hora de ficarmos presos à padrões e querer agradar o chefe ou procurar 'vencer na vida'. Vejam como tudo nos aprisiona e...”. E aí eu senti meus olhos abertos e um calor no corpo. Minha segunda morte foi acordar e não terminar de organizar alguma coisa com todos, mas nesses minutos que escrevo aqui, me sinto vivo, pois quero tanto compartilhar qualquer coisa que leve mais alguém à gritar algo lucido na multidão, algo que signifique outra forma de viver que... Bom, começar o dia escrevendo me deixa com um sorriso verdadeiro, não aqueles de ontem na ceia de natal.


Chega de repetir, chega de tradição.