segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Amarrados aos próprios pés

Tantas horas acordado e preocupado com questões e sensações mínimas de alguma espécie de justiça - e agora quem lava o que? quem falou a primeira palavra agressiva? quem olhou e quem interpretou errado primeiro? - fingindo entender o mundo como uma caixa de consideração que te dá prêmios quando você faz a coisa certa. Vem então uma noite longa, um início de sono sereno e um espasmo no meio da madrugada que te faz ver e escutar o que mais te humilha no mundo: estamos sozinhos num jogo que vai te destruir e corroer cada esperança que resta.

Amarrado em meus próprios pés apenas para aprender que a maioria dos desejos deixados para viver nas proximidades são devaneios insolentes, enganadores, grosseiros, que vão te colocar numa condição inferior. Logo, o mais puro desejo, a maior ambição, o maior orgasmo é a fantasia que te deixa subordinado ao tempo perdido, ao tempo acordado e preocupado com questões e sensações mínimas de alguma espécie de justiça que simplesmente não existe.

Então você perde e encara que está perdido, já que não existe o que ganhar. Mas volta para a cama e toma coragem mais uma vez de manter-se sóbrio, numa luta séria em deixar uma sobra de energia para sempre conseguir esquecer e viver na praticidade da boa convivência com ... pouco importa quem. Estamos atrás do sentimento de conseguir sentir-se bem consigo mesmo, sonhando acordado, ou dormindo, ou correndo, ou trepando com a maior competência entregue divinamente à todas as pessoas que habitam esse chão duro: sermos egoístas e morrer por isso, amarrados aos próprios pés.