sábado, 17 de dezembro de 2016

O Juicer, fazedor de sucos.

Não sei se posso falar apenas por mim, ou se incluo quem compartilha do sentimento de acordar cedo - mesmo sem um desejo racional, ou seja, essa prática difícil de se livrar - ou falo por todas as pessoas que já tiveram alguma experiência nisso em algum momento da vida. Acredito não ser polêmico em afirmar que os sábados pela manhã podem nos trazer outra vida, outro respiro. Eu não sei se são as memórias infantis de fazer atividades diferentes ou se há um equilíbrio entre pensar em descanso e a expectativa sobre ser um dia de inspiração social maior. Se puxarmos a mitologia e religiosidades, podemos ir mais longe.

Mas o fato é que acordo hoje - um dia como outro até a prova de sua inocência - com alguns pesares, um plano desfeito por forças que não poderia controlar, decisões a tomar em um segundo, blusas no meio de dezembro. Mas é sábado e uma voz em minha mente dizia baixinho: "Põe tudo tuas maçã no juicer".

Era uma voz agradável, mas deixei de lado, num bom lado, e me virei ao outro pra procurar na cabeceira da cama um livro. Eu estou concentrado sobre alguns aprendizados no que diz respeito à não fuga da compreensão total de problemas. Procurei um capítulo que me agradasse e encontrei durante o folhear, antes do início do capítulo 'Sobre a memória', um recado de quatro anos atrás que nunca tinha visto.

Sobre a memória pode-se dizer muito, eu já escrevi envolto em obsessões, em felicidades, em tristezas, com método histórico embaixo do braço, já fiz perguntas provocativas, já recebi respostas instigantes e já recebi um grande vazio. Mas o que li no capítulo trazia elementos novos e desafiadores - ou pelo menos a organização das palavras me deixaram essa sensação. O recado, por outro lado, começava pelo meu nome e dizia a pessoa para eu não me preocupar, que eu não tinha feito nada de errado à ela, mas precisava seguir a viagem programada.

"Maçãs no juicer, maçãs no juicer". Verdade, eu tinha várias maçãs. É engraçado supor coisas a respeito de como as pessoas lidam com livros e com maçãs ao mesmo tempo. As maçãs, eu ainda tinha várias, fui suprido por uma remessa das boas esses dias. Os livros, teve uma época que eu insistia em terminar um pra começar outro, mas depois abandonei essa besteira. Em 2012, o ano do recado encontrado, eu já lia esse, que além de denso espiritualmente, não é escrito em português e então, eu leio devagar, parando aos passos de encontrar no dicionário algumas dúvidas, que na verdade, residem mais nas reflexões do que no vocabulário.

Fiz o suco! É sábado e caramba, a parada é muito boa, é o melhor suco do mundo e era tudo que eu poderia desejar, ou o que a minha memória me diz nesse instante. Esse robozão, composto por várias partes de plástico, com cantinhos bem desenhados para termos um encaixe e funcionalidade satisfatória, o Juicer - do inglês: fazedor de suco - sempre me surpreende. Eu tomei quase num gole só e pensei que se eu mereço esse suco de maçã num sábado pela manhã, eu não devo ter feito nada errado mesmo.

Aí veio a louça. Você já lavou uma máquina dessas? (...) São quantos os erros na vida que não podemos consertar?