Inúmeras contas o dia
todo, frações de segundos para decidir, passos contados, minutos
contados, cálculos em outras dimensões, você não se dá conta,
mas atenta para uns mais do que outros. Por isso é assim: um numero
apenas, um modo de conta aprisionado em convenções. Mas quem disse
que somos livres nesse julgamento?
São 30 anos e os dias de
30 são estranhos. Ninguém pode afirmar e ninguém poderia duvidar.
Logo, resolve colocar uma roupa de 30 e, o corpo torna-se 30, a
cabeça é 30, nem menos nem mais - é preciso entregar-se - nas
sensações confusas com os passos que não param, mas te levam à
uma direção: o mercado no começo da noite do sábado.
Alguns
pães, um molho vermelho, algo salgado e logo vê como a janta de 30
poderia ficar. Um hamburguer vegan chique são 15 reais e não 30
reais. A metade está incorreta, o preço não tá de acordo com
míseros anos de industrialização excessiva de uma ideologia parada
na prateleira - onde vai estar o veganismo em 30 anos? Não há tempo
agora pra refletir, você tem números no relógio, tem números na
sua conta, multiplica, diminui e ao mesmo tempo reage ao impulso da
outra forma de levar pra casa aquela coisa escura dentro de uma
embalagem com vácuo. Dá-se conta que não há números suficientes
para segurar nossa liberdade. Há uma luz que chama atrás dessas
câmeras que fazem o ambiente tão matematicamente perfeito para os
patrões. Mas os 30 e a melhor roupa do guarda roupa não te livram
dos seguranças te olhando de canto, seguindo pela loja, apertando o
ramal 03 no rádio preso ao pulso por um cordão de 30 centímetros.
Um homem de bigode, um sapato gasto e visivelmente folgado, as pernas
finas numa calça jeans desbotada e as regras e a obediência
expressas sem variações duvidosas, os olhos sem titubear na crença
do que lhe faz sentido: o trabalho e a moral.
No fim, a idade
não importa tanto, desde criança queremos sentido na vida, um
brinquedo de plástico ou madeira, algo que faça barulho, algo que
nos dê movimentos, qualquer coisa que preencha nosso mundo. Nos
tornamos aquilo que o mundo faz. Crescer é dar novos passos e ter
novas visões. Achar sentido nas coisas torna-se algo mais complexo.
Um mecanismo estatístico de complexidade na busca de um sentido para
estar conformado na vivência: a ausência é calculada, é imposta
pelas compras, o consumo como saída imediata, o espelho como
aparência, a superficialidade, a enganação consentida, novos
dogmas, novo andar, preencher o tempo com novas manias; qualquer
coisa que não nos permita viver sem sentido, pois aqui reside a dor.