segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Nomadismo estável nas contas imprecisas


Inúmeras contas o dia todo, frações de segundos para decidir, passos contados, minutos contados, cálculos em outras dimensões, você não se dá conta, mas atenta para uns mais do que outros. Por isso é assim: um numero apenas, um modo de conta aprisionado em convenções. Mas quem disse que somos livres nesse julgamento?

São 30 anos e os dias de 30 são estranhos. Ninguém pode afirmar e ninguém poderia duvidar. Logo, resolve colocar uma roupa de 30 e, o corpo torna-se 30, a cabeça é 30, nem menos nem mais - é preciso entregar-se - nas sensações confusas com os passos que não param, mas te levam à uma direção: o mercado no começo da noite do sábado. 

Alguns pães, um molho vermelho, algo salgado e logo vê como a janta de 30 poderia ficar. Um hamburguer vegan chique são 15 reais e não 30 reais. A metade está incorreta, o preço não tá de acordo com míseros anos de industrialização excessiva de uma ideologia parada na prateleira - onde vai estar o veganismo em 30 anos? Não há tempo agora pra refletir, você tem números no relógio, tem números na sua conta, multiplica, diminui e ao mesmo tempo reage ao impulso da outra forma de levar pra casa aquela coisa escura dentro de uma embalagem com vácuo. Dá-se conta que não há números suficientes para segurar nossa liberdade. Há uma luz que chama atrás dessas câmeras que fazem o ambiente tão matematicamente perfeito para os patrões. Mas os 30 e a melhor roupa do guarda roupa não te livram dos seguranças te olhando de canto, seguindo pela loja, apertando o ramal 03 no rádio preso ao pulso por um cordão de 30 centímetros. Um homem de bigode, um sapato gasto e visivelmente folgado, as pernas finas numa calça jeans desbotada e as regras e a obediência expressas sem variações duvidosas, os olhos sem titubear na crença do que lhe faz sentido: o trabalho e a moral. 

No fim, a idade não importa tanto, desde criança queremos sentido na vida, um brinquedo de plástico ou madeira, algo que faça barulho, algo que nos dê movimentos, qualquer coisa que preencha nosso mundo. Nos tornamos aquilo que o mundo faz. Crescer é dar novos passos e ter novas visões. Achar sentido nas coisas torna-se algo mais complexo. Um mecanismo estatístico de complexidade na busca de um sentido para estar conformado na vivência: a ausência é calculada, é imposta pelas compras, o consumo como saída imediata, o espelho como aparência, a superficialidade, a enganação consentida, novos dogmas, novo andar, preencher o tempo com novas manias; qualquer coisa que não nos permita viver sem sentido, pois aqui reside a dor.

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