Espaço de transformação é onde estamos agora.
No meio de um fogo cruzado, você tem opções: entregar sua vida, correr pra algum dos lados que te atira e se aliar à quem você odeia, ou resistir na sua posição.
O sexo e suas relações em nossa sociedade aparece em duas formas distintas, mas que se completam. Temos a banalização, o consumo, o comércio, onde o dinheiro e toda a superficialidade que ele carrega consigo aparece de forma arrebatadora. É o jogo da velocidade, do poder, da ostentação. As coisas acontecem por motivos estúpidos, motivos que um dia, acredito eu, o indivíduo se dará conta do vazio. Por outro lado, temos ainda um ranço de valores cristãos, onde o homem e a mulher têm as suas posições definidas, têm objetivos, deveres, morais estabelecidas, etc. A intensidade com que isso se traduz varia bastante, mas com poucas exceções, podemos dizer que aqui estão os nossos pais.
Somos filhos do tempo, temos a mídia martelando e a geração dos pais como a passada para nossa influência. Queremos (essa é uma referência ligada ao que considero punk/hardcore e diretamente ao debate com o tema do título proposto num evento que participei, aliás, a idéia do texto teve como inspiração esse debate) estabelecer um vínculo dentro do meio que não se ligue à nenhuma das formas ditas, mesmo que haja enormes divergências entre nós, os pontos comuns serão mais fáceis de achar. Um debate proporciona isso. Conhecer pontos de vistas, experiências diversas, sentimentos. É com isso que vamos moldando o que entendemos por respeito ao próximo. E nada mais que respeito é o que buscamos.
Porém, como fazer uma tábula rasa diante do que se produz em massa na sociedade? Alguém se dispõe à responder? Sim, não é simples, mas vou arriscar de maneira simplória: expulsando machismos de fora para dentro e de dentro para fora, ou... da cena para o mundo e do mundo para nossa cena.
"A namorada do fulano" terá um nome quando ela mostrar sua personalidade, quando ela assumir seu papel ativo. É o exemplo, a prática das ações que vai quebrar esse dogma. "O namorado da fulana" não existe aqui porque lá fora, quem tem poder de persuasão "deve" ser o homem. Ou seja, é ele quem leva a garota para os shows e não ao contrário. Aqui caímos numa questão abrangente, a menina permite que isso aconteça sem contestar, ou o hardcore tende à atingir mais garotos que meninas? Sim? Por que? (outro assunto) Ok, calma, um passo de cada vez, mas vai preparando a rasteira.
O que quero dizer é que não podemos nos restringir pelos ambientes. A nossa maior chance é mudar a cena, é aqui que nosso tato é mais apurado, aqui sentimos mais de perto as vibrações, e essas, com certeza irão se reverberar para fora, mas precisamos ser únicos no tratamento em qualquer lugar. Onde estamos agora é um grande espelho, onde estamos agora é onde podemos ser ativos, portanto, cortemos já o que não presta, cortemos já as ofensas, as brincadeiras, as expressões que não irão adicionar nenhum ponto positivo.
Queremos transformar não por nenhuma mania, queremos porque enxergamos além. Somos essência de carinho, afeto, amizade, amor. Nada melhor do que viver isso de forma autêntica.
Um comentário:
Ótimo texto, queria muito ter participado desse debate!
Quanto àquelas perguntas ali, não sei se você vai continuar a escrever sobre isso depois, mas...
Acredito que um dos motivos que possibilita o estereótipo de "namorada de" é porque ainda existe a idéia de 'groupie', ou seja, a menina participa do rock porque gosta dos garotos que o fazem, e não do rock em si. É algo revoltante, mas existem pessoas que pensam assim e, o pior, que agem assim.
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