sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Muito para sentir

A mão toca os ombros e desce devagar até a parte superior do braço. Um leve aperto na pele. Os olhos se levantam e encontram um rosto com traços finos, não tão difíceis de notar frente à maquiagem carregada de halloween. Um instante depois não há dificuldade alguma: o sorriso que acompanha os olhos vívidos tomam a frente de qualquer fantasia e o mundo se fecha nesse pequeno inesperado foco de vida.


As palavras do momento são qualquer coisa, desimportantes. É uma festa, uma festa como outra qualquer; as pessoas se enganam, buscam isso com vontades mais fortes do que para realizações de longo prazo. É normal; você fala besteiras,  eu respondo com mais besteiras. Na esperança de desfazer quaisquer embaraços, seguimos um para cada canto dentro do ambiente com poucas luzes. Todxs sabem como é isso.

São minutos que separa um outro momento em que eles se cruzam no corredor e ela olha com insistência aos seus olhos enquanto passa. Um breve sorriso; uma expressão que pede para ser lida, mas que mantém um mistério prolongado. O que pensar, o que fazer em seguida?

A princípio pensou que não fosse nada importante, mas na verdade ficou confuso de imediato: alguns instintos nos tiram do lugar e empurram o corpo para produzir algum movimento. Estava desacostumado a entender com rapidez o que não se espera de uma noite qualquer. Disse a si mesmo poucos dias depois: "Não lembrava-me como era ficar sem graça por causa de um olhar".

A nova conhecida agora tem um nome, mas ela não sabe como o tirou de um lugar onde há tempos queria apenas ter a certeza que poderia sair. Se na festa não houve tempo e possibilidades de acontecer muita coisa, os dias seguintes representaram o que se propôs a chamar de "um pequeno passo".

Para entender o presente, é preciso investigar o passado. Para entender o pequeno passo é preciso expor que dias antes do ocorrido, sonhou - ou interpretou - que estava de bem com o mundo, que tinha deixado mágoas para trás e que não deveria ficar preso ou preocupado em alimentar o desastre que é estar só há tanto tempo.

Refletiu uma ultima vez antes da leve onda passar e quis dizer à ela, como se tratasse de uma velha amiga: "contigo eu pude comprovar, seus olhos verdes me disseram muito do que eu queria sentir".

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