Já não sei se os eventos ocorreram nessa sequencia. Estou ainda no final do dia, mas os sentidos podem me enganar, eu sei. Eu saí de casa correndo, mas reservei um tempo para uma ducha fria. Estava calor e seria meu antídoto pra ficar um tempo dentro de um carro sem ar condicionado, com direção pesada. Queixo duro, alguns dizem. Fui, demorou pra chegar. Cheguei. Achei uma vaga. Só preciso entrar, pegar uma caixa com vegetais orgânicos e voltar. Não vou pôr cartão. Não precisa, amigo, vou demorar 3 minutos. Entro, subo as escadas. Vejo uma guria de costas, acho que a estou reconhecendo. Será que é a guria que saí semana passada? Devo dizer um oi, certo? Não, mas estou sem cartão, preciso correr. Na volta eu me certifico e dou um oi. Ela vai me ver com as caixas na mão e perceber como estou apurado. Não vai ficar feio se eu praticamente passar correndo. Aqui está sua caixa. Obrigado. Saio numa passada rápida. Olha lá a guria. Tá com outro cara, tá beijando. Ah, não vejo problema, vou dizer oi. Ih, não é ela. Desço as escadas, Passos rápidos. Cheguei no carro. Que porra de bilhete é esse? Ah caralho, é uma multa. Amigo, a moça não deixa eu por cartão pelo lado de fora, senão te salvava dessa. Tudo bem, eu entendo. Cadê ela? Tá ali atrás do caminhão. Moça, eu fiquei três minutos fora, eu até tinha cartão, mas veja bem. Não posso fazer nada agora. Ok, eu entendo, tenha um bom dia. Preciso pegar também as castanhas. Estacionamento lotado. Ok, do outro lado da rua tem um conveniado, não preciso de cartão. Eita, que fila é essa? Crédito ou débito. Débito. Não lido com crédito. Volto pro carro, descobri uma passagem pelo meio da quadra. Ganhei tempo. Vamos lá, vou pegar essa rua hoje. Ih, tá ruim. Não, ruim é apelido. Meia hora pra andar quatro quarteirões. Olha as bicicletas me passando. Que inveja, quero a minha. Talvez eu só ande de bike e não faça mais nada. Eu gosto, realmente gosto. Será que consigo um outro emprego? Meu corpo aguentaria ser entregador de bike e depois trabalhar no emprego oficial? Bom, deixa pra lá. Via calma tá escrito na placa, mas eu estou desesperado. Eu não consigo sair daqui, to suando muito. O banho já era, preciso de outro. Atravesso o centro todo. Uma hora completa pra isso. Mais vegetais. Muitas folhas. R$39,80. R$50. R$11,20. Beleza, só falta ir no mercado. Odeio esse mercado. Estacionamento conveniado, atendente diz que meu carro ta bonitinho. Obrigado. Esse é antigo, né? É sim, amigo. Mas ta bem bonito mesmo. Obrigado, eu digo. Abro a porta para sair e já bato no carro vizinho. Tem uma pessoa dentro. Trocamos olhares. Até que foi amistoso. Lista mental. Quatro itens. Preciso de um carrinho para as compras. Prefiro aqueles de dois andares. Boa invenção isso aí. Pena que eles ficam presos um no outro e não consigo fazer com que eles desgrudem. Moço, quer ajuda? Sim, por favor, moça. Ela puxa forte pra trás, eu seguro e o carrinho sai. Muito obrigado. Acho ótimo pensar numa mulher segura para oferecer um favor que envolve trabalho braçal para um homem. Com tanta coisa retrógrada por aí. Temos esperança. Lembrei da pauta do facebook. Bela, recatada e dona do lar. A Veja é mesmo uma merda. Que atraso. Corre que dá. Carrinho cheio. Caixa. E amanhã, no feriado, qual horário de vocês? Ah, eu fico amanhã das quatro da tarde até meia noite. Na verdade, eu queria saber o horário do mercado. Mas tudo bem. Não quis corrigir. Fiz cara de simpático. Vamos descarregar. Caramba, olha o horário. Vai no pisca alerta mesmo. Chega de estacionar. Foda-se. Sabe o que? Vou deixar o carro em casa. Eu mereço andar de bike hoje. Chega dessa merda de automóvel. Quero vento na cara e sentir a perna trabalhar. Além disso, tô atrasado pro trabalho. Saio correndo. Bike no chão. Na primeira esquina um carro me fecha. Sem seta, sem nada. Jogo a bike pra cima da tartaruga. Pneu bate de lado. Furou. Merda. Vontade de abandonar a bicicleta aqui e sair correndo. Jamais. Mais fácil abandonar o emprego, o país, a família, a casa ou o carro no meio do mato do que deixar a bicicleta pra lá. Eu tenho sentimentos. Sempre digo isso. Acreditem. Chego ao trabalho. Tudo certo. Me sinto de pavio curto. Preciso cuidar. Irritabilidade não faz bem. Sorrisos ajudam. Oi amiga. Olha eu aqui te chamando de amiga. Ué, somos amigos, diz ela. Nem conheço a pessoa. Nome francês. Linda. Claramente adoro a energia dela. Pegou na minha mão e sorriu. Tchau amigo. Fiquei feliz de ser uma das ultimas clientes. Vamos embora. Empurrar bicicleta. Maconheiros na esquina. Legaliza logo essa porra. Caramba, pra quê marginalizar? Olha a caçamba. Estou sentindo. Vai ter coisa boa. Uma moldura. Mais uma pra coleção. Minha sala tá cheia. Prometo que vou arrumar. Mas prometer pra si mesmo? Aí é fácil ser corrupto. Sou corrupto todo dia. Não digo que tá certo. Talvez escreva um texto. Sim. O nome vai ser corrida quarta. Deveria abrir um vinho? Não, deixa para próxima. Terminarei e vou dormir. Parece que estou esquecendo de algo. Amanhã é outro dia. Depois eu lembro.
quarta-feira, 20 de abril de 2016
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